Megha Dhaka Tara é um filme indiano de 1960 dirigido por Ritwik Ghatak, uma obra rara e de difícil acesso. Por sorte, o 5º Olhar de Cinema disponibilizou, nesta edição de 2016, a versão original do longa. Infelizmente, mais da metade das cadeiras estavam vazias em uma sessão de apenas 8 reais (inteira).
“Estrela Encoberta de Nuvens”, como é conhecido aqui no Brasil, traz para os espectadores do mundo inteiro uma mensagem muito simbólica de que, independente da cultura de um povo, algumas personalidades nunca vão deixar de existir.
Para nós brasileiros entendermos melhor o filme, precisamos, primeiro, conhecer um pouco mais sobre os hábitos e costumes de uma das civilizações mais antigas da humanidade. Bastante influenciada pelo oriente e ocidente, a Índia possui uma cultura diversificada, a música, por exemplo, é amplamente reconhecida, tendo na maioria das composições um caráter bastante descritivo e emocional de acontecimentos do cotidiano.
A religião é extremamente forte na cultura indiana, afinal, essa é uma das regiões consideradas como base religiosa das civilizações antigas. O hinduísmo budismo e islamismo são as religiões predominantes.
O cinema indiano, por mais que não seja o mais famoso, tem algo de peculiar: é o maior do mundo. Pois é, a Índia é o país que mais produz filmes. Diferente do que a maioria deve pensar, não é o Estados Unidos com suas enormes produções de Hollywood o local onde mais se realiza produções cinematográficas.
Na vida a gente tem que entender
Que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri
Essa frase de Tim Maia, na canção “Azul da Cor do Mar”, retrata bem a mensagem do filme que conta a história de Nita (Supriya Choudhury), uma jovem bonita que mora com seus pais, sua irmã e seus 2 irmãos em uma situação bastante precária – são paquistaneses refugiados em Calcutá. É ela quem cuida da casa e quem trabalha para conseguir trazer comida à mesa. Seu irmão mais velho sonha em ser cantor, porém, tem fama de vagabundo na região onde mora, não ajuda sua família e sempre está devendo dinheiro e pedindo ajuda para sua irmã.
Nita sonha com seu futuro, casar, terminar os estudos, ser feliz e ter uma vida tranquila, mas como ela é a única capaz de cuidar de sua família, esses desejos vão ficando cada vez mais longe. Seu pai e irmão menor sofrem um acidente e precisam ficar em casa, sua mãe não trabalha e apenas explora a filha, seu irmão mais velho não deixa de cantar por nada, nem para arrumar emprego e ajudar a família e sua irmã mais nova é outra que não está nem aí com nada.
A jovem e dedicada moça tem a oportunidade de casar com Sanat, sua grande paixão e começar a vida longe daquele povoado, mas na sua cabeça ela não pode abandonar seus parentes e, mesmo sendo explorada ao máximo, se vê obrigada a ficar ali.
A partir desse momento, é uma sucessão de acontecimentos trágicos para Nita mas, mesmo assim, ela não se deixa abalar. Certo dia, descobre estar com tuberculose e esconde a doença até o último momento. Seu irmão, finalmente consegue ficar famoso por sua música e recebe muito dinheiro, agora, sua mãe passa a fazer muitos elogios ao filho sem chamar ele de vagabundo, claro.
Nesse momento em que nossa protagonista está doente, impossibilitada de ajudar e seu irmão conseguiu fama, Nita é apenas uma pedra no caminho para a família e não serve para mais nada. Tudo estava acabado e a estrela foi encoberta pelas nuvens.
Dessa forma pode parecer genérico, mas todo o modo como a história é contada chama a atenção, a carga emocional do filme é extremamente marcante, a fotografia em preto e branco é um grande destaque e a trilha sonora exprime todos os sentimentos de Nita de uma forma excepcional.
Por fim, Meghe Dhaka Tara é uma obra tão longe, mas ao mesmo tempo tão perto de nós pelas questões familiares que chega a ser curioso ter sido realizada na Índia.
https://www.youtube.com/watch?v=7sfrI3UcPWY
Um filme tão longe mas, ao mesmo tempo, tão perto de nós. Uma relíquia indiana que merece ser contemplada.
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IMDb
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Roteiro
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Elenco
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Fotografia
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Trilha Sonora