A história do cinema – musas do cinema mudo
As musas e heroínas do início do cinema foram muito importante para a construção da sétima arte como conhecemos hoje e, infelizmente, muitas vezes são deixadas de lado. Alice Guy, por exemplo, é conhecida por muitos como a primeira mulher a dirigir e escrever histórias para filmes ficcionais. Durante sua carreira, ela produziu mais de mil filmes dentro do estúdio que ela mesma comandava. Hoje, é bastante ofuscada pelo grandioso mestre da ficção Georges Méliès.
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Alice começou trabalhando com fotografia, contratada por Leon Gaumont. Mas nao durou muito até a empresa falir. Entretanto, Gaumont decidiu abrir o seu próprio negocio, o qual se tornaria uma grande potencia para a industria de cinema francesa: a Gaumont Film Company, companhia que existe até hoje com o nome apenas de Gaumont.
Entre os filmes mais marcantes e notáveis da empresa, o destaque vai para as produções em episódios de Louis Feuilliade como Fantomas (1913/1914) e Os Vampiros (1915/1916). Alice Blache, assim como Georges Méliès, estava lá em paris na apresentação dos irmãos Lumiere em 1895 e logo percebeu o potencial dos filmes, levando ela a correr atras de tudo o que era preciso para começar a sua carreira como cineasta.
Seu primeiro filme se chama A Fada Do Repolho e é conhecido também como a primeira produção do cinema com uma narrativa cinematografica. Não se sabe ao certo a data em que foi realizado, mas acredita-se que tenha sido em 1896. Foi baseado em um antigo conto de fadas francês, onde meninos nascem dentro de couves e as meninas dentro de rosas.
Era eclética quanto aos gêneros filmados e chegou a gravar na Espanha os filmes Le Bolero e Tango, ambos de (1905), mas foi no ano seguinte que realizou uma de suas obras mais ambiciosas chamada O Nascimento, a Vida e Morte de Cristo (1906), uma superprodução com mais de 300 figurantes e 33 minutos, uma duração impressionante e nada normal para a época.
Outra diretora importantíssima para a história do cinema foi Dorothy Arzner, que começou sua carreira na Famous Players Film Company, empresa que futuramente se tornaria a Paramount Pictures. Ela cresceu ali dentro se tornando roteirista e editora, mas queria mais. Até ameaçou ir para a Columbia Pictures se não conseguisse o cargo de diretora. Mas conseguiu.
Em 1927, dirigiu o seu primeiro filme chamado A Mulher e a Moda, o qual foi um grande sucesso de público. Alguns anos depois dirigiu a eterna Clara Bow, no primeiro filme falado do estúdio, Garotas na Farra (1929), filme que introduziu os primeiros temas lésbicos e LGBT que se tornaram comuns no trabalho da diretora.
Entretanto, foi na atuação que as mulheres começaram a ganhar mais destaque, tivemos uma série de personagens femininas que vieram para formar o álbum das musas do cinema mudo. A “Vampe”, que surgiu em meados da década de 1910 é um ótimo exemplo. A destruidora voraz de paradigmas foi retratada de forma icônica por Theda Bara em Escravo de Uma Paixão, em 1915.
Esse filme recebeu um comentário bastante ácido de S. J. Perelman, humorista e roteirista que trabalhou por anos na revista The New Yorker. Ele disse que o que conferia importância ao filme estrelado por Bara não era seu enredo, tampouco as atuações do elenco em geral, que eram primarias, mas uma criaturinha incendiaria chamada Theda Bara, que imortalizou a Vampe.
O sucesso do filme possibilitou a William Fox fundar seu próprio estúdio e tornar a atriz uma verdadeira estrela. Ela explorou seus traços vampirescos em uma serie de personagens sedutoras e se tornou um ícone ao interpretar a rainha egípcia no filme cleopatra em 1917, dirigido por J. Gordon Edwards.
Nos anos 1920, a Vampe deu lugar a “Melindrosa”, ou seja, aquela mulher que desafiava as convenções: se vestia diferente, bebia, fumava, trabalhava, votava e via o sexo como algo casual. Ela foi representada com mais sucesso por Colleen Moore e Clara Bow.
Dos 6 filmes que Bow estrelou em 1927, foi “It” que criou um ícone da era do jazz e marcou sua carreira, por isso, a atriz recebeu o apelido it girl aos 21 anos de idade. O longa de 1h20 conta a historia de Betty Lou, uma vendedora em Manhattan que se apaixona por seu chefe, o qual já está envolvido com uma socialite, mas não resiste aos encantos da personagem de Clara.
O filme Asas (1927) foi outro marco para a carreira de Bow, tendo sido o primeiro longa a receber o premio de melhor filme no Oscar, lá na primeira cerimonia da academia, realizada em 1929. A história se baseia em dois rapazes de classes econômicas distintas que se tornam pilotos durante a Primeira Guerra Mundial e se apaixonam pela mesma mulher.
Foi revolucionário e impressionou pelas cenas de aviação criadas na época. Gloria Swanson também se destacou no cinema mudo, Macho e Fêmea (1919) e Por que Mudar sua Esposa (1920) são exemplos marcantes e memoráveis da atriz, ambos sob o comando do mestre Cecil B. DeMille.
Swanson fez enorme sucesso no cinema hollywoodiano, se consolidando como rainha no clássico Crepusculo dos Deuses (1950), dirigido por Billy Wilder. Provando que se adaptou com a chagada do som, diferente de Clara Bow.
Não tem como falar das mulheres do cinema mudo sem citar a imortal Greta Garbo, um dos maiores exemplos de sucesso e de atrizes que conseguiram se adaptar no cinema com o avanço do áudio. Greta foi direto da suécia para hollywood em 1925 para trabalhar na MGM e marcou presença nos filmes O Diabo e a Carne (1926) e Terra de Todos (1926). Em 1935, protagonizou a adaptação literária do clássico Anna Karenina, de Liev Tolstói.
Em 1930, realizou o seu primeiro filme falando, Anna Christie. O destaque nos cartazes sobre ser um filme falado com a Greta Garbo era enorme, com a intenção de chamar a atenção para todo mundo que sempre quis escutar a voz inigualável da atriz. Entre os principais filmes falados de Greta, estão Grande Hotel (1932), A Dama das Camélias (1936) e claro, o inesquecível Ninotchka (1939).
Mary Pickford foi, sem duvidas, outro símbolo feminino muito importante para o cinema. Além de atriz foi produtora e fez mais de 200 filmes. Foi uma famosa feminista em sua época, ganhou Oscar em 1930 e um premio honorário muito especial em 1976, sendo outra mulher a fazer parte das musas do cinema mudo.
Ao lado de David Griffith, Charlie Chaplin e Douglas Fairbanks, Mary fundou a United Artists. Essa empresa foi essencial para o cinema, uma vez que se consolidou como a primeira grande companhia independente na distribuição de filmes e consagrou diversos diretores do cinema mudo. Entre os principais filmes de Mary Pickford ainda no cinema desprovido de som, vale destacar Rica e Pobre (1917), Papai Pernilongo (1919) e Sua Vida Pelo Seu Amor (1925).
Além dessas deusas, diversas outras mulheres marcaram o cinema mudo, como Lillian Gish no épico O Nascimento de Uma Nação (1915), Intolerância (1916) e Lírio Partido (1919), todos dirigidos por David Griffith.
Em 1920, Olivie Thomas interpreta uma colegial apaixonada por um homem mais velho em The Flapper, filme que também teve ótima aceitação. Mas infelizmente, no mesmo ano a atriz sofreu um envenenamento acidental, deixando o cinema precocemente aos 25 anos de idade.
Collen Moore também fez sucesso e é considerada uma das musas do cinema mudo, principalmente interpretando a melindrosa Patricia no filme Flaming Youth (1923), que fala sobre a cultura das petting parties, festas em que casais podiam “ficar a vontade”.
No ano seguinte, Pola Negri interpreta “Catarina, a Grande” com trejeitos da vampe no drama paraíso proibido dirigido por Ernst Lubitchs e baseado em uma peça da Broadway, de 1922.
Marion Davies eternizou a Peggy Pepper em Fazendo Fita (1928) e estrelou também em Filhinha Querida (1928), ambos dirigidos por King Vidor.
Louise Brooks foi outra atriz muito influente do cinema mudo, arrasou o coração dos homens e também o de uma mulher no clássico A Caixa de Pandora (1929). Marcou presença, também, por ser uma mulher muito a frente de seu tempo, batendo de frente com grandes estúdios em busca de salários melhores, uma poderosa que influencia gerações até hoje.
Essas são apenas algumas das musas do cinema mudo, você lembrou de mais alguma? Deixe um comentário dizendo qual é a sua atriz preferida dessa época incrível da sétima arte.
Referência Bibliográfica: Livro Tudo Sobre Cinema, de Philip Kemp, lançado no Brasil pela editora Sextante.
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Louise Brooks e Clara Bow.