Existem filmes que parecem ser feitos exclusivamente para se tornar clássicos. O cinema na década de 1950 tem vários exemplos, como Crepúsculo dos deuses (1950), de Billy Wilder ou A um passo da eternidade (1953), de Fred Zinnemann. A cinematografia estrangeira desse período também traz obras primas, como o japonês Era uma vez em Tóquio (1953) de Yasujiro Ozu ou o sueco O sétimo selo (1957) de Ingmar Bergman, entre outros.
Se tratando do cinema hollywoodiano nos anos 50, não há melhor exemplo do que o maior musical de todos os tempos: Cantando na chuva (1952), dirigido por Stanley Donen e Gene Kelly. Apesar de ser pouco inovador em termos técnicos, praticamente sem grande novidade para a cinematografia, esse filme já nasceu clássico e tornou-se sem dúvida uma das películas mais conhecidas e cultuadas da história do cinema.
A trama se passa no ano de 1927, auge do cinema mudo em Hollywood e dos grandes astros e estrelas daquele período. O ator Don Lockwood (Gene Kelly) e a atriz Lina Lamont (Jean Hagen) formam o casal preferido dos paparazzi e representam o que há de mais glorioso na indústria cinematográfica. Esse casal é puramente fictício, mas rondam os rumores que eles estão apaixonados também na vida real. Esses rumores não são desmentidos por Lina, mas Don sempre se esquiva dessa possibilidade amorosa, pois possui um grande ego com relação à sua carreira e não pretende desmoralizá-la pelo fato que sua companheira de cenas românticas possui um sotaque interiorano horrível, pronuncia as palavras de maneira errada e tem uma voz muito irritante.
Don Lockwood possui uma grande amizade que cultiva desde a infância com Cosmo Brown (Donald O`Connor), seu companheiro de atuação e produtor musical de seus filmes. Don e Brown começaram a carreira juntos em espetáculos de dança e ingressaram no cinema como dublês. Don foi gradativamente conseguindo papeis de destaque em filmes até consolidar-se como o grande astro do cinema ao lado de Lina Lamont. Apesar da preocupação de Lockwood em negar o suposto noivado com Lina, a carreira desse trio vai indo muito bem.
No entanto, tudo começa a mudar de repente. Don e Cosmo estão saindo de um espetáculo quando o seu carro quebra no caminho e para numa rua movimentada, cheia de fãs histéricas de Don que o agarram e rasgam seu paletó. Para fugir do assédio, Lockwood sai correndo pelas ruas e pula dentro de um carro em movimento de uma desconhecida. É aí que conhece Kathy Selden (Debbie Reynolds), com quem tenta trocar flertes, mas acaba logo se desentendendo, pois a jovem critica o cinema e seus atores por considerar um simples “espetáculo para as massas” e que os atores do cinema mudo não atuam de verdade como no teatro, apenas são caricaturas da pantomima.
Depois desse desentendimento, Don vai para uma glamorosa festa em companhia de Cosmo e Lina. Nesse evento, há uma apresentação de um pequeno filme falado que naquele momento é a maior revolução da história do cinema. Inclusive há a menção do filme O Cantor de Jazz (1927), da Warner Brothers, que estava sendo produzido e viria a ser o primeiro longa falado da história. Na festa, Don se reencontra com Kathy e descobre que ela é uma atriz e bailarina em busca de uma carreira em Hollywood tenta se aproximar dela, mas não é correspondido pela jovem.
Alguns dias depois, o filme falado da Warner é lançado alcançando um grande sucesso na primeira semana de exibição. O novo trabalho do casal preferido de Hollywood é um épico sobre a Revolução Francesa, porém Don e Lina se desentendem durante as gravações por causa de Kathy. Além disso, o novo filme é cancelado. Os produtores sentem-se ameaçados diante do estrondoso sucesso de O Cantor de Jazz e agora querem que os seus filmes passem a ser falados também. Don até aceita o desafio, mas sua parceira nunca poderia expor sua voz irritante e sua pronúncia terrível nas telas do cinema.
Don e Kathy se reencontram em um teste de elenco. A jovem atriz é contratada para atuar em grandes filmes, enquanto o grande astro se apaixona por ela. Eles cantam, dançam e vão se tornando mais íntimos. Nos testes de dicção para o próximo filme, Lina vai de mal a pior. Nas gravações ela não consegue falar no microfone e quando consegue deixa os produtores muito irritados com sua voz e pronúncia. No entanto, o filme falado é realizado. Na noite de estreia o público cai em gargalhadas com a voz de Lina e com os terríveis erros de sincronia entre som e imagem. O filme é um fracasso total.
Lockwood e Lina não são mais o casal preferido de Hollywood. Por causa de um filme a carreira dos dois está prestes a desabar. Cosmo tem uma ideia brilhante: transformar o fracassado filme em um musical, só assim a carreira de Don seria salva. Porém, Lina não sabe cantar e provavelmente seria outro fiasco. É então que Cosmo tem outra ideia brilhante: usar a voz de Kathy no filme enquanto a senhorita Lamont apenas mexe com a boca.
A ideia é fantástica, mas Lina não poderia ficar sabendo. Don e Kathy estão agora perdidamente apaixonados. Em uma noite chuvosa, Lockwood leva a senhorita Selden para casa dela e o casal se despede com um beijo. Isso é suficiente para que Don saia saltitando e cantando na chuva protagonizando uma das mais conhecidas e referenciadas cenas do cinema de todos os tempos. A música Singin` n the Rain, que dá nome ao próprio filme é brilhantemente cantada e dançada por Gene Kelly, imortalizando-o na sétima arte.
O filme foi feito, a voz de Lina é substituída pela de Kathy sem que ela saiba. Tudo vai bem antes da estreia, até Lina descobrir a trama e o romance de Kathy e Don e colocar todo o estúdio em perigo num processo milionário. No entanto, Lina concorda em ser dublada por Kathy desde que isso continue pelo resto da vida. Ou seja, Kathy nunca poderia ter uma carreira pessoal, serviria como voz de Lina em todos os filmes futuros. Ameaçados, o produtor, Cosmo, Don e Kathy aceitam as exigências da senhorita Lamont.
Na estreia do filme, o público aclama com calorosa recepção o triunfo do casal no cinema falado, porém, quando Lina vai agradecer a plateia deixa evidente que a voz no filme não era dela. Don faz questão de apresentar Kathy por detrás das cortinas e revelar toda a verdade para os espectadores. Termina o dilema dos artistas e a angústia dos produtores. Don e Kathy vivem felizes para sempre.
Cantando na Chuva é um filme simples. Cheio de clichês, diálogos leves e um visual bastante colorido e chamativo. Foi indicado ao Oscar em 1953 nas categorias de Melhor Atriz coadjuvante para Jean Hagen e Melhor Música para Lennie Hayton. Embora não tenha recebido nenhum dos prêmios esse filme é consagrado pelos amantes do cinema, sobretudo pelas épicas cenas de danças da dupla Kelly e O`Connor. Além disso, o filme é uma metáfora, uma alusão à transição do cinema mudo para o falado. Um marco na cinematografia e uma paixão aos cinéfilos.
Cantando na Chuva é uma metáfora, uma alusão à transição do cinema mudo para o falado. Um marco na cinematografia e uma paixão aos cinéfilos.
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IMDb
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Roteiro
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Elenco
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Fotografia
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Trilha Sonora