Nascido em 16 de Janeiro de 1948, em Carthage, Nova York, John Carpenter desenvolveu sua carreira no cinema em várias áreas diferentes: dirigiu, roteirizou, produziu, argumentou, atuou, montou e compôs trilhas sonoras.
Alguns cinéfilos podem não conhecer o nome de John Carpenter (HERESIA!) quando o ouvem em alguma roda de conversa ou ao ler alguma matéria sobre cinema. Porém, com certeza conhecem alguns de seus trabalhos fundamentais para a sétima arte, como os mais famosos Halloween – A Noite do Terror e O Enigma de Outro Mundo.
A verdade é que Carpenter é um diretor de gênero. Todos os seus filmes se passam em um universo fantástico, seja de terror, aventura, suspense ou ficção científica; em alguns momentos até, chegando a misturar os estilos. E como ainda há um preconceito latente em relação aos filmes de gênero (tema para outra matéria), Carpenter ainda não possui o reconhecimento que merece: o de GRANDE diretor.
Influenciado pelas obras de Howard Hawks, John Ford, Alfred Hitchcock, westerns e o antológico seriado Além da Imaginação, Carpenter sempre teve apreço pela fantasia. Dentre seus filmes preferidos estão: O Paraíso Infernal, Onde Começa o Inferno (do qual criou uma “refilmagem” urbana em Assalto à 13ª DP), Cidadão Kane, Um Corpo que Cai, Black Christmas (que serviu de inspiração para a criação de Halloween) e Blow Up – Depois Daquele Beijo.
Em 1970, roteirizou e compôs a trilha sonora do curta-metragem Ressurection of Bronco Billy, que venceu o Oscar em sua categoria. Sua estreia como diretor se deu ao realizar Dark Star, em 1974 que, incialmente, como um curta-metragem paródia de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, se tornou um longa-metragem que foi indicado a vários prêmios pelo mundo (como o Science Fiction and Fantasy Writers of America, Hugo Awards e o Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films, USA). Entretanto, Carpenter considera que seu primeiro longa-metragem oficial seja Assalto à 13ª DP.
Entre idas e vindas aos grandes estúdios de Hollywood, Carpenter teve seu período de maior sucesso durante o fim dos anos 70 e os anos 80. Alguns de seus filmes foram grandes sucesso de público e crítica, como Halloween, Fuga de Nova York e Starman – O Homem das Estrelas. Outros, no entanto, não foram tão bem-sucedidos, como Os Aventureiros do Bairro Proibido e o derradeiro fracasso de O Enigma de Outro Mundo. Apesar disso, Carpenter sempre foi um diretor conhecido por realizar projetos de gosto pessoal (com exceção de Starman e Memórias de um Homem Invisível). Inclusive, Carpenter recusou várias ofertas para dirigir filmes que se tornariam grandes sucessos como Top Gun – Ases Indomáveis, O Rapto do Menino Dourado e Atração Fatal.
Sempre fiel ao seu caro universo de fantasia, Carpenter também nunca teve medo de se arriscar a criar obras mais pessoais de baixo orçamento mesmo enquanto era requisitado por grandes estúdios. Filmes como O Príncipe das Sombras e Eles Vivem são exemplos disso. Inclusive, Carpenter reconhece que todos os cineastas que desenvolveram algum filme de baixo orçamento foram influenciados pela experiência desbravadora de George A. Romero em A Noite dos Mortos Vivos.
Além de grande diretor e excelente argumentista (são deles as ideias de Os Olhos de Laura Mars e Lua Negra – O Supercarro, por exemplo), Carpenter também ficou famoso pelas trilhas sonoras que criou para seus filmes. Filho de um músico, Carpenter criou alguns dos temas mais antológicos do cinema dos anos 70 e 80, com destaque para os arrepiantes temas de Halloween e A Bruma Assassina, além das empolgantes músicas de Fuga de Nova York e Assalto à 13ª DP. O mais engraçado é que, no início, a composição de trilhas sonoras para seus filmes era uma questão de necessidade, já que ele não possuía orçamento suficiente para pagar um compositor. No entanto, Carpenter começou a criar gosto pela música e começou a considerar essa atividade como uma extensão de sua direção. O sucesso como compositor através dos anos foi tanto, que Robert Rodriguez convidou Carpenter pessoalmente para criar a trilha-sonora de sua homenagem aos Grindhouses em Planeta Terror. Convite de Carpenter recusou.
Alguns temas são recorrentes no cinema de Carpenter: personagens sendo coagidos em ambientes cada vez confinados e claustrofóbicos durante os filmes; referências a westerns clássicos (principalmente na ambientação) e uma sensação de paranoia. Além disso, segundo Carpenter, os monstros de seus filmes são sempre a parte perigosa do ser humano. De uma forma ou de outra, a imagem do maléfico em seus filmes, sempre se confundirá com o das pessoas ali presentes, seja como forma de punição (A Bruma Assassina), como metáfora (Halloween) ou literalmente (O Enigma de Outro Mundo).
A influência de Carpenter no cinema fantástico é patente. Para citar um exemplo, o roteiro de Halloween, criado em conjunto com Debra Hill, criou todas as “regras” dos filmes slashers, que tiveram seu ápice na primeira metade dos anos 80. Os famigerados “cheap scares” (sustos causados pela aparição inesperada de algo/alguém na tela, geralmente acompanhado por um aumento abrupto nos acordes da trilha sonora) também foram inventados em Halloween; algo que Carpenter utilizou organicamente em seu filme e foi copiado de várias formas errôneas posteriormente. Inclusive, profissionais como Quentin Tarantino, Robert Rodriguez, Neil Marshall, David Robert Mitchell e até o badalado diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho destilam apreço pelos filmes do diretor, incorporando em seus filmes algumas referências ao estilo de direção, e temas, de Carpenter.
John Carpenter está sem lançar um filme desde Aterrorizada, em 2011; antes disso, havia dirigido dois dos melhores episódios da série Masters of Horror (Pesadelo Mortal e Pro-Life). O cineasta não esconde de ninguém como ainda é muito ressentido pelo modo como Hollywood o tratou por várias vezes. Atualmente, se dedica mais à música, graças ao sucesso de seus álbuns John Carpenter’s Lost Themes I e II, um projeto criado a partir da paixão que os fãs têm pelas suas trilhas sonoras.
Apesar de ter “desistido” do cinema, Carpenter possui um círculo de adoradores vorazes de suas obras. Criou alguns clássicos que já são eternizados pelo cinema e ainda possui outros filmes que ainda precisam ser mais valorizados pelos amantes dessa arte.
Preparem-se para entrar no universo fantástico desse GRANDE diretor. A cada semana uma nova resenha de cada um dos longas de John Carpenter lançados no cinema, portanto, não entrarão nessa matéria os curtas feitos pelo diretor em início de carreira, os episódios dirigidos para a série de antologia Master of Horrors e também os filmes feitos para TV (Alguém Me Vigia, Elvis e Trilogia do Terror).