O Brasil acompanhou de perto Fernanda Torres nos últimos dias. Fãs torceram até o último minuto, enquanto muitos que passaram a conhecer sua trajetória recentemente se encantaram com um talento que já atravessa décadas. Sua arte transborda gerações, e sua entrega – seja no teatro, no cinema, na televisão ou na literatura – a coloca em um patamar único na cultura nacional.
Agora, com o impacto de sua atuação em Ainda Estou Aqui e a vitória histórica do filme no Oscar de 2025, é impossível não olhar para sua trajetória com ainda mais admiração. Embora não tenha levado a estatueta de Melhor Atriz, sua interpretação foi essencial para que o Brasil conquistasse seu primeiro Oscar, consolidando sua importância definitiva na história do nosso cinema.
Esta é uma homenagem a uma artista que nunca precisou de um prêmio dourado para provar sua grandiosidade.
Filha de Gigantes, Mas Uma Gigante Por Si Só
Fernanda Montenegro e Fernando Torres. Dois dos maiores nomes do teatro e da dramaturgia brasileira. Crescer sob essa sombra poderia ter sido um fardo, mas Fernanda Torres transformou isso em um trampolim para sua própria identidade artística. Desde cedo, os palcos eram sua casa, e sua estreia no teatro já mostrou que o talento corria em suas veias.
Mas, ao contrário do que muitos podem pensar, Fernanda nunca foi apenas “a filha da Fernanda Montenegro”. Ela construiu sua própria carreira, traçando um caminho que, apesar de dialogar com o legado de seus pais, sempre teve um brilho particular.
Se a televisão foi sua porta de entrada para o grande público, foi no cinema que Fernanda Torres começou a ganhar reconhecimento internacional. Aos 20 anos, sua atuação intensa e visceral em Eu Sei Que Vou Te Amar (1986), de Arnaldo Jabor, lhe rendeu o Prêmio de Interpretação Feminina no Festival de Cannes.

Foi um feito impressionante: uma jovem atriz brasileira conquistando um dos prêmios mais prestigiosos do cinema mundial, algo que poucas conseguiram. A crítica aclamou sua performance, e seu nome começou a ecoar fora do Brasil. Mas, ao contrário do que muitos poderiam imaginar, Fernanda não seguiu uma carreira internacional. Seu compromisso sempre foi com a arte nacional, e foi aqui que ela escolheu consolidar sua carreira.
A Versatilidade: Do Drama à Comédia
Fernanda Torres nunca foi uma atriz limitada a um único gênero. Se no cinema brilhou em dramas intensos, na televisão se tornou um ícone da comédia.
Seu papel em Os Normais (2001-2003) a transformou em um fenômeno popular, eternizando sua parceria com Luiz Fernando Guimarães. O humor afiado, o timing perfeito e a naturalidade com que interpretava situações absurdas fizeram de sua personagem um marco na televisão brasileira.

Mas essa leveza nunca significou superficialidade. Mesmo na comédia, Fernanda sempre trouxe profundidade às suas personagens, explorando o lado humano por trás do riso.
Além de brilhar nos palcos e nas telas, Fernanda Torres encontrou na escrita um novo meio de expressão. Seu primeiro romance, Fim (2013), foi um sucesso absoluto. Com uma narrativa que mistura humor e melancolia, o livro conquistou leitores e críticos, revelando uma nova faceta de seu talento.
A partir daí, vieram outras obras e colaborações, consolidando sua presença no mundo literário. Sua escrita, assim como sua atuação, é marcada por um olhar afiado sobre a condição humana, sempre equilibrando drama e ironia.
O Oscar e a Consagração com Ainda Estou Aqui
Foi com Ainda Estou Aqui que Fernanda Torres entregou uma das atuações mais poderosas de sua carreira. O filme, baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva e dirigido por Walter Salles, exigiu dela uma entrega emocional intensa, mergulhando em uma história de luta, dor e resistência.
O impacto foi imediato. A crítica internacional exaltou sua performance, e o filme ganhou força nas premiações. Quando foi anunciado como vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, a emoção tomou conta do Brasil.
Fernanda não levou a estatueta de Melhor Atriz, mas sua atuação foi uma das principais razões para essa conquista histórica. Seu talento ajudou a colocar o cinema brasileiro no topo do mundo – e isso vale mais do que qualquer prêmio.
O que define uma grande artista? Prêmios? Reconhecimento internacional? Ou a capacidade de tocar gerações com sua arte?
Fernanda Torres nunca precisou de um Oscar para ser gigante. Sua carreira, construída com dedicação, talento e versatilidade, é um testamento de sua importância para a cultura brasileira.
Seja no teatro, no cinema, na televisão ou na literatura, ela sempre esteve – e continuará estando – entre as maiores.
Porque, para nós, você venceu.
Para o Brasil, você venceu.