Assistir Federico Fellini é sempre uma nova descoberta, um novo olhar, uma nova história. Agora, assistir a um dos maiores gênios italianos dentro de um cinema, mais de 40 anos após o seu auge, é ainda melhor. O filme escolhido pelo Olhar de Cinema na mostra “Olhares Clássicos” foi essencial: Amarcord, de 1973. Não é o mais famoso do diretor, nem o mais esquecido, é um essencial.
1930, fascismo, infância, desejos e recordações. Em um plano geral, é disso que Amarcord – em uma tradução livre, algo parecido com “eu me lembro” – é feito. O próprio diretor afirma que não se trata de um filme autobiográfico, mas uma obra repleta de lembranças, sonhos e desejos do artista.
Estamos em uma Rimini onírica, ou seja, a cidade da Itália em que Fellini nasceu, mas em um formato fantasioso, assim como a maioria dos acontecimentos do filme que, muitas vezes, são desconexos e surreais. Aqui, vive Gradisca, interpretada sensualmente por Magali Noël (A Doce Vida), a gorda de seios fartos que trabalha na tabacaria (Maria Antonietta Beluzzi), a ninfomaníaca chamada Volpina (Josiane Tanzilli) e a família de Titta (Bruno Zanin), o garoto central da história.
Todos esses personagens citados, além das outras pessoas do povoado, possuem alguma conexão com Titta e, o mais interessante, é que as histórias são contadas de modo desconexo, o que resulta em um “surrealismo felliniano”, algo basante presente, também, em “8 e Meio“.
Ao mesmo tempo em que Amarcord é surreal pelo fato dos acontecimentos desconexos, é um filme bastante próximo a nós. Uma vez que as simbologias de cada contexto estão presente no nosso dia-a-dia. As brigas familiares durante o almoço, a descoberta do sexo, os desejos carnais, a morte… Fellini conseguiu transpor isso na tela de uma forma surpreendente, a qual nos faz sentir parte daquela pequena cidade na Itália.
Em questões técnicas, o filme não peca. A direção de fotografia ficou por conta do talentoso Giuseppe Rotunno, que foi indicado ao Oscar da categoria pelo filme O Show Deve Continuar (1979), mas perdeu para o incrível Apocalypse Now, de Coppola (com direção de fotografia do Vittorio Storaro). É um encanto em cada cena, desde as cores utilizadas até os enquadramentos marcantes. Sem contar as belíssimas cenas embaixo da neve.
A trilha sonora é como se fosse um personagem do filme que, sem ela, não teria graça. Nino Rota é um dos principais nomes da música no cinema, e não é por menos: Poderoso Chefão, O Leopardo, Oito e Meio, A Doce Vida e Amarcord estão entre seus principais trabalhos, que conseguem transpor a essência das cenas para as notas musicais de uma forma completamente única.
Da filmografia italiana, Amarcord é um filme indispensável, seja por sua estética ou pelas histórias que circulam a vida de Titta. Uma obra que merece ser assistida sempre que possível, mas sempre com novos olhares.
Se você é de Curitiba, ainda tem chance de assistir ao longa no cinema: clique aqui e confira a programação completa da mostra “Olhares Clássicos”.
E aí, você já assistiu Amarcord? O que achou? Vamos conversar. =)
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Fotografia
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Trilha Sonora