Já imaginou um mundo onde o trabalho dos bombeiros é incendiar e não apagar? Um mundo onde os principais inimigos do homem são os livros? Bom, esse foi o futuro distópico proposto no romance de Ray Bradbury, publicado em 1953. O filme foi lançado em 1966 e dirigido por François Truffaut, que também é responsável por Os Incompreendidos (1959), Atirem No Pianista (1960), Jules e Jim – Uma Mulher para Dois (1962) e O Último Metrô (1980).
O livro de Ray Bradbury, escrito após o término da Segunda Guerra Mundial, revolucionou a literatura com um texto que condena não apenas a opressão anti-intelectual nazista, mas também o cenário dos anos 50, revelando sua preocupação dentro de uma sociedade opressiva comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra. Todos esses elementos estão muito bem apresentados no longa-metragem.
Holy smoke! Com uma pretensiosa produção, Truffaut nos presenteia com essa fantástica obra (sua primeira e única na língua inglesa). Oskar Werner interpreta Guy Montag, um bombeiro que segue à risca todos os comandos de seu capitão (Cyril Cusack). Como já dito, o trabalho desses homens não é para apagar o fogo, e sim, queimar todos os livros que encontram pela frente pois, de acordo com o capitão, não servem para nada, apenas alienam as pessoas e criam seres anti-sociais.
– É verdade que antigamente os bombeiros apagavam fogo ao invés de ateá-lo?
– Você nunca leu um livro antes de queimá-lo?
– Você é feliz?
Essas perguntas feitas pela vizinha do bombeiro, Clarisse (belíssima Julie Christie), mudam completamente o rumo da vida de Montag. Aquele que obedecia todas as regras sem hesitar, agora começa a pensar duas vezes em suas atitudes.
Clarisse, ao meu ver, é uma versão menos feminina e mais humana da esposa do protagonista Linda Montag (interpretada também por Julie Christie). Questionado sobre o motivo da atriz fazer as duas personagens, o diretor respondeu que o bombeiro Montag vive seus desafios acompanhado por duas figuras femininas, onde uma é a imagem invertida da outra e ele foi incrivelmente feliz nessa jogada.
Outro ponto de virada de Fahrenheit 451 é claramente percebido no momento em que os bombeiros entram na casa de uma senhora para destruir seus livros, ao receber a ordem para sair da casa, ela recusa e prefere se sacrificar junto aos seus livros do que continuar vivendo numa realidade tão ditatorial. Aqui percebemos a consciência de Montag trabalhando.
Ele começa a ler e se interessar cada vez mais pelas histórias contadas nos livros até então desconhecidos e descobre, também, um grupo seleto de pessoas que decoram um livro de suas escolhas para viver aquela história sem serem perseguidas. Esse grupo é chamado de “homens-livro”.
Os créditos iniciais do filme são outra sacada genial do diretor pois não são escritos, mas narrados. Ele já antecipa o clima da proibição de leitura. Nesse momento, são mostradas várias antenas de TV nas casas que são o principal meio de interação desse futuro.
Curiosidades
– Fahrenheit 451 é uma referência à temperatura em que os livros são queimados. Convertido para Celsius, essa temperatura equivale a 233 graus.
– Entre os livros queimados pelos bombeiros está a revista Cahiers du Cinema, para a qual o próprio diretor François Truffaut escrevia na época.
E você, já leu o livro ou assistiu ao filme? Deixe sua opinião logo abaixo nos comentários.
Essa obra condena não só a opressão anti-intelectual nazista, mas também o cenário dos anos 50, revelando sua preocupação numa sociedade opressiva e comandada pelo autoritarismo do mundo pós-guerra.
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IMDb
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Roteiro
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Elenco
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Fotografia
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Trilha Sonora