“Laranja Mecânica” ou A Clockwork Orange, é um romance escrito em 1962 por Anthony Burgess, que retrata um bando de rua futurista baseado nos Teddy Boys, Mods e Rockers, que lutavam nas praias da Inglaterra no final da década de 1950 e princípio de 1960. Burgess inventou mnemônicas (técnicas de memorização) para poder falar russo e foi daí que criou a linguagem (mista de russo e inglês) de rua dos jovens adolescentes chamada Nadsat, um sufixo russo para teen.
O romance trata simplesmente de jovens entre 10 e 23 anos que se entregam aos seus desejos de sexo, violência, roubo, drogas e outros vícios. O livro foi publicado com notoriedade em 1959, mas durante muito tempo acreditou-se que era impossível filmá-lo. Leia a resenha completa aqui.
Confira algumas curiosidades sobre a obra logo abaixo.
Banido do Reino Unido?
Ao contrário do que dizem, “Laranja Mecânica” não foi banido dos cinemas do Reino Unido. Porém, o filme foi massacrado por críticos importantes (como Pauline Kael e Roger Ebert) e foi atacado por “promover a violência”. Irritado, Stanley Kubrick decidiu impedir a exibição do filme em 1973 até sua morte (em 1999). Durante muito tempo, os britânicos assistiram ao filme através de VHS’s importadas de outros países.
Censura no Brasil
O filme entrou na lista de obras proibidas pela censura, fazendo com que os amantes do cinema fossem assistir o Laranja Mecânica em países vizinhos, como o Uruguai. Quando foi liberado, só conseguiu ser exibido nas salas com ridículas bolinhas pretas sobrepostas nas cenas de nudez (mesmo com classificação para maiores de 18 anos).
Acidentes de Trabalho
Durante a cena em que Alex (Malcolm McDowell) é submetido ao tratamento Ludovico, o ator teve sua córnea arranhada pelos pequenos ganchos e ficou sem enxergar por um tempo. Malcolm voltou a se dar mal na cena que seus ex-companheiros tentam afogá-lo.
Improviso!
A cena clássica do estupro, onde Alex canta “Singin’ in the Rain” foi filmada sem ser planejada. Kubrick perguntou se Malcolm McDowell sabia dançar e o ator, meio de brincadeira, encenou cantarolando a canção tema do musical de Gene Kelly. A cena ficou imortalizada.
Erros de Continuidade
Fãs defendem que as falhas de Kubrick, na verdade, são propositais com o objetivo de causar algum tipo de reflexão ao espectador. Os erros mais famosos são os pratos que trocam de posição na mesa e o nível do vinho na garrafa que varia durante jantar na casa do escritor. Em “O Iluminado” existem alguns outros ainda mais famosos.
Os Clássicos da Música
O livro e o filme se passam em um futuro indeterminado, mas por mais moderna que seja a loja de discos onde Alex se encontra com duas garotas, o gosto musical continua o mesmo da época em que o filme foi gravado. Discos como “Magical Mystery Tour” (1968), dos Beatles, “After The Gold Rush” (1970), do Neil Young e “Atom Heart Mother” (1970) aparecem na primeira prateleira da lojinha. Até a trilha sonora de “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (1968), também de Kubrick, pode ser vista ao lado de Alex.
Cena Acelerada
A cena onde Alex faz sexo com mais duas garotas em seu quarto, brilhantemente acelerada na montagem e resumida em cerca de 1 minuto, teve 74 takes. A versão que foi para o filme, sem o efeito, tem 28 minutos.
Sem cenários
O Korova Milk Bar foi o único cenário construído especialmente para o filme. Suas esculturas foram baseadas no trabalho do escultor Allen Jones (uma das pinturas da parede apareceria novamente em “O Iluminado”, 1980). Stanley Kubrick fez com que os dispensers de leite fossem esvaziados, lavados e reabastecidos a cada hora, pois o leite coalhava sob as luzes do estúdio.
Vincent Van Gogh
Na cena em que Alex (Malcolm McDowell) fala com o padre sobre a terapia Ludovico, é possível ver os prisioneiros marchando em círculo no pátio. A cena recria uma pintura de Vincent Van Gogh, “Prisioneiros se Exercitando” de (1890).
Rolling Stones e os Droogs
Desesperado por dinheiro, Anthony Burgess (o escritor da obra) vendeu os direitos de adaptação do filme para Mick Jagger por apenas US$ 500,00. O músico planejava fazer o filme tendo os Rolling Stones como os droogs, mas acabou revendendo os direitos por uma quantia muito maior.
Bônus (O Título da Obra)
O título não significa apenas a tradução literal – Laranja Mecânica. Uma das expressões encontradas no glossário Nadsat (no livro), com um novo significado, é justamente orange, que além de laranja passa a designar também “homem”. Isto se dá por um trocadilho feito com a semelhança fonética de orange com orangutan (orangotango, primata altamente desenvolvido, “parente” do homem). Sendo assim, temos agora “Homem Mecânico”, que nada mais é do que aquilo que Alex se torna após o condicionamento: um ser programado, sem poder de escolhas.
2 Comentários
Brilhante, sou apaixonado por essa obra (filme e livro), lembro que quando terminei de ler o livro senti uma tristeza profunda por que sabia que não ia mais “ver” o Alex, e nas ultimas linhas ele se vai e nem olha pra trás. Foi como um amigo do qual eu não teria mais notícias. Que poder fantástico tem uma obra dessas!
Douglas, você descreveu exatamente como me senti. É fantástico mesmo!