“O filme mais aterrorizante de todos os tempos”. Assim é a apresentação do filme realizado em 1973 pelo diretor estadunidense William Friedkin “O Exorcista”, baseado no livro homônimo de William Peter Blatty, roteirista do longa.
> Veja as reações das pessoas ao assistir O Exorcista em 1973
Nenhum filme de terror, até então, havia alcançado tanto prestígio, seja da crítica ou dos populares. Nenhum filme de terror alcançou tamanha posteridade, atravessando quatro décadas como um marco na cinematografia de horror e no imaginário coletivo. O grande trunfo de “O exorcista” é ter se tornado sinônimo de medo, de pavor, da eterna luta do bem contra o mal.
Definitivamente é um clássico do cinema. Quarteirões lotavam de espectadores em sua estreia. Já nas primeiras sessões de sua exibição tornou-se necessária a presença de ambulâncias nas portas do cinema, pois reações histéricas, desmaios e gente passando mal viraram rotina e marca registrada do filme.
Muito aclamado e premiado, “O Exorcista” foi o primeiro filme de terror a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme em 1973. Além disso, obteve indicações nas categorias do Oscar de Melhor Diretor (William Friedkin), Melhor Atriz (Ellen Burstyn), Melhor Ator Coadjuvante (Jason Miller), Melhor Atriz Coadjuvante (Linda Blair), Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Ganhou os Oscar de Melhor Roteiro (William Peter Blatty) e Melhor Som (Christopher Newman e Robert Knudson) em 1973.
A trama começa em um sítio arqueológico no Iraque, onde o padre jesuíta Lankester Merrin (Max von Sydow), que também é arqueólogo, está visitando algumas escavações e acaba encontrando um fragmento de uma pequena imagem do demônio Pazuzu, considerado pela antiga crença mesopotâmica e de regiões próximas como o rei dos demônios e senhor dos ventos.
O interesse pelo achado demoníaco faz o padre Merrin investigar a região mais a fundo e, em meio a sua busca, encontra-se com uma estátua grande de Pazuzu ladeada por cães reais que se põe a brigar no mesmo instante em que o religioso se depara com a imagem.
Em Georgetown, a atriz Chris MacNeil (Ellen Burstyn) e sua filha de 12 anos Regan MacNeil (Linda Blair) começam a perceber que a tranquilidade do seu lar está comprometida. Há barulhos estranhos no sótão e Regan apresenta graves alterações em seus comportamentos, como conversar com um amigo imaginário, o Capitão Howdy através de uma tábua de Ouija.
Em uma noite festiva na casa de Chris, Regan aparece de repente de pijama, diz a um dos convidados: “você vai morrer lá em cima!” e urina sobre o carpete da sala. A sua mãe fica constrangida e se desculpa com todos alegando que a filha está muito doente.
Enquanto isso, o jovem padre Damien Karras (Jason Miller), se vê em uma profunda crise existencial e de fé. Seus estudos em psiquiatria na Universidade de Georgetown comprometem suas crenças, principalmente quando se vê impotente diante da degeneração crítica da saúde física e mental de sua mãe que vive sozinha em uma região suburbana. Karras sente-se culpado por ver a mãe naquele estado, pois sendo filho único percebe que não está conseguindo conciliar sua obrigação pastoral, profissional e familiar.
A situação de Regan só vai se agravando. A jovem começa a ter convulsões e sentir sua cama tremer durante a noite. Além disso, a menina profere palavrões, tem comportamentos agressivos e vai gradativamente perdendo sua ternura e ingenuidade de forma inexplicável. Chris se vê obrigada a levar a filha a um psicólogo pensando que todos esses transtornos são resultados da sua entrada na puberdade. Não obtendo respostas positivas, a menina é submetida a uma intensa bateria de exames neurológicos, todos, no entanto, não oferecem um diagnóstico satisfatório.
Regan é encaminhada a um psiquiatra. Em uma sessão de hipnose clínica a jovem apresenta um comportamento totalmente incomum e violento, atacando verbal e fisicamente o seu próprio terapeuta.
A partir daí o filme se desenrola em uma série de acontecimentos de ordem paranormal. Móveis se mexem e são lançados no ar pela telecinésia, um crucifixo de prata aparece misteriosamente no quarto de Regan, a cama da jovem se sacode violentamente, assim como o próprio corpo da menina que apresenta nitidamente uma mensagem de socorro em seu abdômen. Durante a noite, Chris liga para o pai de Regan, eles são separados, e comunica-lhe o caso. Em uma das cenas mais chocantes e hipnóticas da história do cinema, Regan desce a escada que dá acesso ao seu quarto de costas como uma aranha e vertendo sangue pela boca.
Desesperada, a mãe da menina se reúne com os médicos que examinaram sua filha. Ambos, embora um tanto descrentes, aconselham a atriz a procurar um exorcista, pois já viram que em casos dessa extremidade o rito religioso da expulsão de demônios ou espíritos maus demonstrou eficácia. Chris se torna relutante, pois não é religiosa. Porém, a gota d água ainda está para acontecer.
Voltando pra casa a senhora MacNeil ouve gritos desesperados no quarto de Regan. Quando ela entra percebe que a filha está se masturbando violentamente com o crucifixo de prata e proferindo palavrões grotescos. Na tentativa de ajudar a filha, Chris é esbofeteada, os móveis do quarto a impedem de fugir do local. O espetáculo que a mãe assiste é definitivamente demoníaco, Regan está toda ensanguentada e com hematomas no rosto. Sentada na beira da cama gira sua cabeça em 180º e diz a mãe: “sabe o que ela fez? A safada da sua filha?”.
Não há alternativa a não ser procurar um exorcista. Coincidentemente o padre procurado é Damien. Damien, no entanto, está cada vez mais descrente. Sua mãe falecera recentemente e os sentimentos de culpa e revolta tornam o jovem padre mais cético do que um ateu não religioso. Em um encontro informal, Chris diz a Damien que precisa de um exorcista. O padre Karras, obviamente e na situação existencial que se encontra, vê o pedido com escárnio. Porém, se sensibiliza com a situação apresentada por Chris e se compromete a investigar a menina usando de seus conhecimentos em psiquiatria.
Os sucessivos encontros do padre Damien com Regan são inúteis. Tentando o máximo que pode explicar o ocorrido com a jovem de forma científica, Karras só obtém frustração e confusão, enquanto Regan vai apresentando um aspecto cada vez mais diabólico e horripilante. Além disso, os frutos de sua abordagem psiquiátrica só resultam em insultos, desafios psicológicos, rajadas de vômito verde e aprofundamento de questões que levam o padre a mais profunda miséria humana.
Vendo esgotados os seus esforços racionais, o padre Damien Karras definitivamente percebe a necessidade das forças sobrenaturais e do rito de exorcismo. Busca a autorização do bispo para realizar o ato, porém é aconselhado a recorrer a alguém que já tenha experiência nessa área. O padre Lankester Merrin é o convocado. Quando chega em Georgetown, trata imediatamente de iniciar o ritual de exorcismo, tendo Damien como ajudante.
A partir do momento em que o velho exorcista entra no quarto, a luta entre as forças do bem e do mal fica ainda mais evidente. Durante as orações de repreensão e esconjuro do demônio, Regan xinga, se contorce, vomita, levita da cama, movimenta objetos do quarto com a mente e insiste em provocar Damien e Merrin levando-os a uma tensão psicológica quase doentia.
Após horas e horas de orações, Karras já não aguenta mais. Padre Merrin pede que ele deixe o quarto ficando a sós com o demônio. O velho padre é dependente de remédios e se vê muito enfraquecido, tanto físico quanto emocionalmente no rito do exorcismo. Após recuperar suas forças, Damien volta ao quarto e se depara com Merrin morto encostado na cama. O demônio em Regan demonstra escárnio pela situação. Karras se enfurece e agarra a menina com socos. Fala ao demônio que possua a ele e deixe Regan em paz. Quando o diabo aceita a troca, Damien alucinado se atira pela janela do quarto em direção à morte numa grande escadaria da rua.
Chris entra no quarto e mistura desespero e alívio, vendo os dois padres mortos em sua casa, mas enfim, vê Regan liberta da possessão demoníaca. Damien ainda é absolvido de seus pecados por seu amigo padre Dyer (William O`Malley) antes de morrer. O final do filme é ou não é feliz. A jovem foi exorcizada, mas pelo custo de vidas. Regan não se lembra de nada do que lhe aconteceu.
Claro que em uma resenha como essa não é possível abarcar todos os detalhes e simbolismos, que são muito importantes em “O exorcista”. Cada cena possui uma significância no filme, como os flashs em que o rosto de Pazuzu aparece de repente, as visões que Karras tem de sua falecida mãe, a imagem de Nossa Senhora violada e ensanguentada na igreja, o papel do investigador Kinderman (Lee J. Cobb) pesquisando os fatos, etc. “O exorcista” tem muito mais força nos detalhes do seu roteiro do que nas próprias cenas explícitas de terror.
Muita especulação se faz a respeito do destino dos realizadores e atores do filme. Fatos bizarros com coincidência macabra compõem o conjunto de lendas que cercam “O exorcista”. De fato, foi um filme com muitas incidências um tanto curiosas, pra não dizer maldições, como gostam os amantes de teorias da conspiração. Atores morreram e precisaram ser substituídos na trama, barulhos estranhos soavam nos sets, houve um grande incêndio ainda inexplicável que arrasou todo o cenário, atrasando muito as gravações. Além disso, um padre de verdade participou do filme. Várias vezes ele precisava abençoar os atores e os sets com água benta para que a “má energia” que rondava o filme desaparecesse.
Enfim, independente das especulações, verdades ou não, “O exorcista” ainda é o favorito dos cinéfilos do gênero de horror. Seu legado ainda é persistente e sua influência constantemente se renova na produção cinematográfica mundial.
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Considerado como o filme mais aterrorizante de todos os tempos, o maior trunfo de "O exorcista" foi ter se tornado sinônimo de medo, de pavor, da eterna luta entre o bem e o mal.
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IMDb
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Roteiro
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Elenco
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Fotografia
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Trilha Sonora