Clássico: “Que segue ou está de acordo com os cânones ou usos estabelecidos ou que é conforme com um ideal; tradicional. Que serve como modelo ou referência; exemplar. Abonado ou autorizado por autores tidos como paradigmas”.
Tais definições conceituais servem como uma luva a uma preciosidade da história do cinema que comemora os seus 50 anos em 2025: “Um Estranho no Ninho” (título original: “One flew over the Cuckoo’s nest”), lançado em 1975 sob a direção de Milos Forman e baseado no romance de Ken Kesey.
A história se passa em um hospital psiquiátrico no Oregon, e a trama vai muito além de um simples drama psicológico, sendo uma análise profunda das relações de poder, do controle e da luta pela liberdade. Randle McMurphy (Jack Nicholson), um criminoso que já cumpriu diversas penas, é transferido para a instituição após alegar estar mentalmente doente, com a esperança de escapar das duras condições de trabalho forçado na prisão. Condenado por um crime de estupro estatutário, McMurphy decide fingir um distúrbio mental para que sua sentença seja cumprida em um ambiente mais tranquilo. Porém, ao adentrar no hospital, ele logo percebe que a realidade ali é bem mais opressiva e perturbadora do que imaginava.
Logo, McMurphy se vê frente a frente com a imponente enfermeira Mildred Ratched (Louise Fletcher), uma figura autoritária e manipuladora que comanda a instituição com mão de ferro. Ratched é uma mulher que, por trás de sua postura fria e controladora, impõe uma rotina rígida e um ambiente de subordinação e repressão. Ela é, de certa forma, o oposto de McMurphy, cujas atitudes irreverentes e questionadoras começam a desafiar não apenas o seu domínio, mas a própria ordem do lugar. A convivência com outros pacientes, como o nervoso Billy Bibbit (Brad Dourif), o paranoico Dale Harding (William Redfield), o excêntrico Martini (Danny DeVito) e o misterioso “Chefe” Bromden (Will Sampson), leva McMurphy a perceber que a luta dele não é apenas contra Ratched, mas também contra as limitações psicológicas e emocionais de todos ali.
À medida que o filme se desenrola, McMurphy se torna um catalisador para a mudança, mostrando aos outros internos que é possível resistir e desafiar o sistema que os oprime. Um dos momentos mais marcantes ocorre quando ele organiza uma pescaria fora do hospital, levando alguns dos internos consigo. Este simples ato de rebeldia revela aos pacientes que eles não são totalmente impotentes diante da situação em que se encontram. No entanto, à medida que McMurphy se aprofunda em sua rebelião, as consequências tornam-se cada vez mais intensas. Quando ele descobre que sua sentença pode ser prorrogada indefinidamente, ele tenta escapar, organizando uma festa de Natal secreta dentro do hospital, subornando um guarda para garantir que tudo saia como planejado. No entanto, a festa acaba em tragédia quando Billy Bibbit, incentivado por McMurphy a superar suas inseguranças, comete suicídio após ser ameaçado pela enfermeira Ratched de contar a sua mãe sobre seu comportamento.
O clímax do filme é devastador: McMurphy, tomado pela dor e pela raiva pela morte de Billy, parte para um confronto físico com Ratched. Essa luta culmina em uma lobotomia, um procedimento que apaga a essência do personagem de Nicholson, anulando sua irreverência e sua força de vontade. Entretanto, é nesse momento de total derrota que Chefe Bromden, que ao longo do filme havia se mostrado surdo e mudo, decide se libertar e escapar. O seu ato de liberdade, simbolizando a vitória sobre o sistema que tenta silenciá-lo, é o ponto culminante da narrativa.
A cena final, profundamente tocante e cheia de simbolismo, transcende o simples desfecho de uma história cinematográfica. Ela é um tributo à força do cinema como arte, deixando uma marca inesquecível em todos que a assistem. Para aqueles que ainda não viram o filme, deixo o convite para que o façam; para os que já o conhecem, fica o incentivo para uma nova visita a esse clássico.
“Um Estranho no Ninho” é um dos poucos filmes vencedores do Oscar que permanece relevante e impactante após tantas décadas. Ganhador das cinco principais estatuetas na cerimônia de 1976, ou seja, Melhor Filme, Melhor Diretor para Milos Forman, Melhor Ator para Jack Nicholson, Melhor Atriz para Louise Fletcher e Melhor Roteiro Adaptado, o filme continua sendo uma das produções mais importantes da história do cinema. Cinquenta anos depois de sua estreia, permanece não apenas como uma obra indispensável, mas como um marco na evolução da narrativa cinematográfica.