O que são psicopatas? Datado em 1941, o primeiro escrito sobre esse distúrbio psíquico, foi de autoria do psiquiatra americano Hervey M. Cleckley, do Medical College da Geórgia. Nele, explicava que isso seria um conjunto de comportamentos específicos e uma personalidade não muito comum. Mas, mesmo assim, a princípio, são pessoas encantadoras e extremamente normais aos olhos de quem os conhecem superficialmente.
Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011) é muito mais do que apenas um filme psicológico, ele é um filme extremamente impactante e envolvente. Com atuações brilhantes, fotografia marcante e trilha sonora que conduz a história de uma forma bastante irônica.
Dirigido por Lynne Ramsay (Morvern Callar e Gasman) e adaptado do romance homônimo de Lionel Shriver, o filme conta a história de Eva Khatchadourian – interpretada brilhantemente por Tilda Swinton – que teve sua vida transformada drasticamente após o nascimento inesperado de seu filho Kevin (Rock Duer e Jasper Newell criança e Ezra Miller adolescente).
O roteiro é brilhante e apresenta a clássica “não linearidade”, mostrando uma Eva atual e completamente melancólica juntamente com flashbacks de sua vida anterior, antes do nascimento de Kevin e durante o crescimento do “menino problema”.
O momento presente do filme, em que mostra a protagonista bastante triste e sem rumo na vida, sendo menosprezada por todos ao seu redor e atacada por vândalos – mesmo sem sabermos ainda o motivo – está solteira e morando sozinha. A partir do momento em que essas lembranças começam a aparecer em flashbacks, as nossas perguntas começam a surgir: o que será que aconteceu com o seu marido? Será que se divorciaram? Cadê o Kevin? Cadê sua outra filha, Celia, interpretada por Ashley Gerasimovich? As respostas só aparecem no dramático final da história e, tudo o que você imaginou, provavelmente estava errado.
Existem diversas cenas marcantes nesse filme, mas uma que, com certeza vale o destaque, é quando Kevin ainda criança não para quieto por momento algum e, já irritada a ponto de explodir, Eva decide dar uma volta com o garoto para ver se ele sossega. No meio da rua, passando por uma obra em construção com muito barulho, ela para ao lado das máquina e os gritos ensurdecedores de seu filho parecem desaparecer. Podemos ver, agora, um ar de calma em cima daquela mãe desesperada com um close marcante em seu rosto.
Os anos se passam e o convívio de Eva e Kevin só piora. Enquanto o homem da casa, Franklin – interpretado mediocremente por John C. Reilly que não marcou presença nenhuma no filme – trabalha, o menino pinta e borda com sua mãe a todo o momento, e quando seu pai chega, ele parece se comportar perfeitamente.
Um momento bastante curioso do filme, é quando em um ato de explosão, Eva acaba machucando Kevin e o mesmo tem o braço quebrado. Ao voltar pra casa, o menino defende sua mãe na frente de Franklin excluindo sua culpa no acontecimento. Ué, por qual motivo a criança deixou essa grande oportunidade de “ferrar” com Eva? O final do filme pode explicar, dependendo da sua interpretação.
Como eu já adiantei, a fotografia é, tecnicamente, um grande acerto. A cor vermelha está presente em quase todas as cenas de uma forma bem expressiva. Ao mesmo tempo que está associado ao fogo, sangue, guerra e perigo, essa cor simboliza a paixão e o amor. Essa cor acelera o metabolismo humano, assim como a taxa de respiração e a pressão arterial. Será que exista amor em Precisamos Falar Sobre o Kevin?
A trilha sonora é marcada por clássicos da música e, assim como Kevin, é um tanto quanto irônica em relação aos acontecimentos do filme. Everyday, interpretada por Buddy Holly é canção tema do filme e ela aparece em um momento de bastante confusão na vida atual de Eva – veja o vídeo.
Todos os dias parecem um pouco longos
Todos os dias o amor está mais forte
Aconteça o que acontecer
Faça-o sempre longo para meu amor verdadeiro?
Agora que já entendemos e recordamos um pouco sobre o filme, é hora de tentar responder algumas perguntas, portanto, precisa rolar alguns spoilers. Sendo assim, se você ainda não assistiu ao longa, já deu para você, clique aqui.
Cena final do filme
Certo, após entendermos toda a melancolia de Eva, ou seja, após assistirmos ao massacre de Kevin na sua escola, e por fim descobrirmos que o menino havia matado seu pai e sua irmã também, acontece a cena final. Eva vai visitar seu filho na prisão.
Eva: Dois anos.
Eva: Bastante tempo para pensar no que fez.
Eva: Quero que me diga o porquê.Kevin: Eu achava que sabia…
Kevin: Agora não tenho tanta certeza.
Talvez aqui consigamos entender se existe amor no filme. Por que Kevin defendeu sua mãe sobre o seu braço quebrado e todas as atitudes malucas do menino: ele amava, sim, sua mãe mais do que tudo. Queria, apenas, chamar a atenção dela – de uma forma completamente exagerada, mas era isso. E, após ver uma discussão entre Eva e Franklin, percebendo o possível sofrimento de sua mãe, o jovem pensou em “salvá-la” de todo o mal possível.
Por mais que sua cabeça não trabalhasse direito por conta do possível distúrbio psicótico, Kevin fez o que fez para chamar a atenção e proteger quem ele mais amava, sua mãe.
Esta foi a minha interpretação e, obviamente, não é a única possível. Qual foi a sua? Deixe nos comentários, vamos debater.
Um filme extremamente chocante, de difícil digestão. Atuações memoráveis, trilha sonora impecável e uma fotografia que conta, também, uma história. Um verdadeiro soco no estômago, será que você quer sentir?
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IMDb
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Roteiro
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elenco
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Fotografia
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Trilha Sonora
10 Comentários
Não achei o roteiro surpreendente, mas o filme com certeza é desconfortável, e também tive a interpretação próxima a sua. Só fico pensando que talvez não seja realmente um distúrbio, porque ele no fim parece ter clareza do que aconteceu (“eu achava que sabia”). E ela aceitou a culpa e se tornou devota à ele, né? Arrumando o quarto dele com perfeição, indo visita-lo, mesmo ele tirando dela tudo o que ela tinha, achando que estava preservando-a.
Legal, Lara. Obrigado pelo comentário. Eu acredito que seja um distúrbio exatamente por ele “achar” que sabia o que fez. Afinal, em um distúrbio psicótico, a noção da realidade não é a mesma. Ou seja, ele achava que tava fazendo o certo, mas isso era coisa da cabeça dele.
É sempre legal discutir sobre filmes, volte sempre!
Exatamente Lucas, um psicopata tem uma interpretação da realidade fora do comum, com ausência total de qualquer tipo de sentimento então para eles tudo não passa de um joguinho.
Eu tive duas interpretações nesse filme. Quando o Kevin ainda é uma criança, eu via suas ações como um jeito de chamar a atenção da sua mãe, que se demonstrava impaciente e um tanto quanto agressiva. Porém, quando ele se tornou adolescente, eu passei a enxergar tudo o que ele fazia como uma vingança por ela não ter dado a atenção que ele desejou quando criança, então ele faz de tudo para atingi-la emocionalmente. Gostei da sua interpretação, apesar de não ter visto tanto amor assim no filme, já que o Kevin foi uma gravidez indesejada, e a Eva parecia sempre arrependida de ter ficado grávida tão cedo.
Ele tem um disturbio psicótico, é um psicopata.
aham, entretanto ainda acho que quando ele era uma criança, o que ele costumava fazer era uma forma de chamar a atenção da mãe.
Gostei da sua interpretação, mais tenho medo de toda interpretação que coloca na conta das mães todos os atos de violência dos filhos. Ele sem duvida era um psicótico com tendencias sociopáticas, a pergunta para mim é, sera que essas tendencias foram fruto no ambiente ou nasceram com ele? Porque dizer que ele não foram amando é meia verdade, o pai sempre deu atenção e carinho para ele,
Poxa bem diferente do que eu pensei. Pra mim é o contrário, ele nunca amou a mãe, não era amor e sim uma obsessão. Em relação aos outros ele era totalmente indiferente, tanto que aparentemente ele se dava bem com eles.
Bom… O que eu entendi, foi que ele amava e odiava a mãe. E por achar que ela não o amava, “a castigou” de todas as formas que pôde. Ele sempre foi muito inteligente (característica presente nos psicopatas) e permitiu que ela fosse a única a ver a verdadeira face dele como forma de puni-la ainda mais. Ele sentiu desde cedo a insatisfação dela em ser mãe. A falta de paciência e a infelicidade eram constante. Tanto que uma vez ela fala: “Vc sabia que antes do Kevin a mamãe era bem feliz. Agora a mamãe só queria estar na França.”. Isso ele tinha uns 3/4 anos.
Eu só percebi que ele tmb amava a mãe, qnd ele simula estar doente. Ele amassa sucrilhos para parecer vômito e finge desmaio. Tudo para chamar atenção dela, que estava dando atenção pra irmã que acabara de nascer. Nesse momento ele oscila na personalidade e transfere o lado mal para o pai e qnd o mesmo tenta entrar no quarto, ele o expulsa e pede para mãe não parar de ler para ele.
No dia seguinte ele volta ao “normal” da sua mente pertubada.
Ja na adolescência, ele planeja destruir de vez a vida da mãe.
Como ele acha que ela o culpa desde de pequeno pelas infelicidades da vida dela (o que passou a ser realmente verdade com o passar do tempo), ele decide mostrar que pode mesmo destruir tudo na vida dela. E ele destrói.
Qnd, na cena final ela pergunta por que ele matou as pessoas, inclusive pai e irmã, pela primeira vez no filme vc vê a verdadeira fragilidade dele. Ele perde aquele olhar frio e ameaçador constante e responde sincero: “Eu achava que sabia. Agora, não tenho mais certeza.”
E o que eu entendi???
“Eu achava que vc não me amava. Agora não tenho mais certeza.”
Ela entende a resposta, o abraça e ele a abraça com verdade pela primeira vez.
Os anos na prisão mostraram para ele que ela o amava, pois ela não o abandonou mesmo depois de tudo o que ele fez.
Thais, obrigada pelo comentário, você teve uma sacada incrível. Ele achava que a mãe não o não amava , mas como ela não o abandonou, passou a não ter certeza disso, incrível!! Obrigada por compartilhar!