Cinema Nazista
Como foi possível uma mente tão sombria, manipuladora e maléfica dominar um país como a Alemanha? Talvez uma resposta rápida para essa pergunta esteja nas palavras do sociólogo Max Weber que, mesmo antes da existência de Adolf Hitler, nos mostrou o conceito de “autoridade carismática”, relembrado pelo escritor Ian Kershaw na sua incrível biografia do inestimável Führer da Alemanha.
A “autoridade carismática” não deriva de qualidades importantes e demonstráveis de um indivíduo, mas sim na percepção dessas qualidades por um “séquito” que, em meio a condições de crise, projeta sobre um líder escolhido atributos “heroicos” e nele vê grandeza pessoal, a encarnação de uma “missão” salvífica.
Tendo isso em mente, vale ressaltar que Hitler era um apaixonado pelas artes e dentro da sua longa estadia no poder desbancou realizadores de cinema que não se enquadravam no seu padrão político social. Sendo assim, fica evidente dizer que o cinema nazista foi extremamente propagandístico e nacionalista.
“O teatro, a arte, a literatura, o cinema, a imprensa, os anúncios, as vitrines, devem ser destinados a limpar a nação da podridão existente e pôr-se ao serviço da moral e da cultura oficiais” – Adolf Hitler
Joseph Goebbels, fiel escudeiro de Hitler e Ministro da Propaganda na Alemanha Nazista, foi grande responsável pela criação do cinema nazista assim como pela destruição do cinema desfavorável aos cânones do Führer. O Testamento do Dr. Mabuse (1933) dirigido pelo lendário Fritz Lang, foi um dos exemplares banidos da Alemanha por Goebbels, indicado como possível ameaça à confiança do público em seus políticos.
O cinema (lê-se meio de comunicação de massa) nesse período que cerca a primeira metade do século XX era uma poderosa arma de propaganda política por controlar a opinião pública, afinal, a propaganda nada mais é do que uma forma estratégica e sedutora de conquistar pessoas, ainda mais em uma situação onde um Estado ditador exerce controle rigoroso sobre o conteúdo das mensagens. E assim foi.
Ao assistir um filme como Triunfo da Vontade (1935), dirigido por outra fiel escudeira de Hitler, Leni Riefenstahl, tudo o que foi dito acima é confirmado. Iniciado com as palavras “Produzido por ordens do Führer”, Leni teve a sua disposição tudo o que precisava para criar o maior filme de propaganda de todos os tempos, considerado, inclusive, por críticas atuais.
Triunfo da Vontade é um retrato da Reunião de Nuremberg, ocorrida entre 5 e 10 de setembro de 1934. Nada mais do que um dos encontros nacionais do partido nazista que ocorreram entre 1923 e 1938. A partir da entrada de Hitler no poder, em 1933, essas reuniões exerceram um papel totalmente voltado para a propaganda da imagem dele como um Deus salvador.
É angustiante valorizar um filme com este apelo, mas as qualidades técnicas usadas por Leni Riefenstahl são inegáveis. A diretora captura cenas eloquentes e que possuem grande poder como documento histórico.
Em 1936, Leni lança mais um documentário histórico e uma de suas grandes produções: Olympia. O primeiro longa documentário dos Jogos Olímpicos já realizados e que trouxe inúmeras técnicas cinematográficas incríveis para a época que, mais tarde, se tornariam influência: ângulos de câmera diferenciados e inovadores, técnicas de edição avançadas, close-ups e outros.
Assim como os filmes de propaganda nazista existiram para enaltecer a imagem de Hitler, eles tinham a função de desvalorizar e incentivar a imagem negativa dos Judeus e todos aqueles que não condiziam com sua postura política, mostrando-os como uma raça suja e desumana. Um exemplo é o filme O Eterno Judeu (1940), com direção escolhida a dedo por Joseph Goebbels: Fritz Hippler. Entre imagens fortes e uma narração violenta, o filme é uma afronta grotesca à raça que Hitler mais menosprezou. Um filme difícil de aguentar.
A quem se interessar em outros filmes de cunho nazista, aqui vai: Mocidade Heróica (1933), Hans Westmar (1933), O Judeu Suss (1934) e Jud Süß (1940).
Para você, existe algum valor artístico nos filmes da propaganda nazista? Comente.
Referência Bibliográfica: Livro Tudo Sobre Cinema, de Philip Kemp, lançado no Brasil pela editora Sextante.
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