É sempre interessante – e importante – conhecer e prestigiar obras menos desconhecidas de cineastas famosos. Muitas vezes (ou quase sempre) acabamos nos surpreendendo e conhecendo um outro lado totalmente diferente daquele que já conhecíamos. Isso acontece com muitos diretores como Alfred Hitchcock e seu “Um Casal do Barulho (1941)”, obra de comédia e romance. Ou então, o drama “Casamento ou Luxo (1923)” dirigido por Charles Chaplin.
Não soa estranho Hitchcock dirigindo uma comédia e Chaplin um drama em que não aparece como ator? Essa é a reflexão que colocamos aqui, nem tudo é só aquilo que conhecemos. F. W. Murnau, diretor alemão consagrado por grandes clássicos do cinema e ícone do movimento expressionista alemão está nesse grupo.
Ao pensar em Murnau, o que vem à nossa mente? Fantasia, horror, macabro. Isso por que não nos aprofundamos em sua filmografia completa (ou aquilo que sobrou dela). O reflexivo “Caminhada Noite Adentro” de 1921, filme mais antigo do diretor que está intacto graças as remasterizações do Museu de Cinema de Munique é um exemplo disso, assim como As Finanças do Grão-Duque, de 1924, obra tema deste artigo.
Tive a oportunidade de assistí-lo no cinema, durante o Festival 6º Olhar de Cinema de Curitiba e posso dizer que a sensação foi incrível. Não somente pelo filme, mas sim pela atmosfera de uma sala quase cheia de pessoas para prestigiar uma obra de quase 100 anos, não parece incrível? E é.
As Finanças do Grão-Duque tem um humor sutil, sendo uma verdadeira e simbólica crítica ao capitalismo. Dividido em 6 partes, que se iniciam com uma breve descrição do que irá acontecer, o filme mostra a vida de Grão-Duque (Harry Liedtke) – governante de Abacco – e suas dívidas que não param de crescer.
Desde o princípio, sentimos certa confiança no personagem e isso se desenvolve num carisma muito grande até o final do filme. O sujeito recebe uma proposta milionária para vender suas terras e acabar de vez com suas dívidas, mas nega sem pensar duas vezes ao saber o motivo do interesse do empresário, que descobriu um ponto de extração de enxofre próximo dali.
O Grão-Duque se recusa a vendar as terras ao imaginar a desgraça que poderia ocorrer na vida de seus servos e, por isso, o senhor empresário interessado no local resolve começar uma vingança para tomar o poder e conseguir aquilo que queria: dinheiro.
Mas a luz no fim do túnel é uma carta da Duquesa russa que demonstra suas intenções em casar com o Duque, após descobrir este ato de bondade em preferir a saúde dos servos do que o dinheiro que salvaria sua vida.
Essa é apenas a ponta do iceberg, uma vez que nos deparamos com outros personagens secundários que acabam vez ou outra tomando a cena, como o professor (Alfred Abel) interessado sempre em sair por cima uma vez que entende dos negócios. Personagem muito bem trabalhado por Murnau, uma vez que entre idas e vindas, finaliza como um bom sujeito, ao contrário do que o espectador imagina.
Certamente não está entre os melhores filmes do diretor alemão, mas com certeza é uma obra que vale a pena. Longe de ser cansativa, ela nos leva a conhecer o outro lado do cineasta.
Filme divertidamente curioso que nos transporta para as questões financeiras do início do século 20. Por mais ficção que possa parecer, temos uma reflexão que podemos trazer para os dias de hoje: Será que o poder corrompe todo mundo?
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IMDb
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Roteiro
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Elenco
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Fotografia
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Trilha Sonora