Assim que a invenção dos irmãos Lumierè passou a ser comercializada, o cinema se popularizou rapidamente por toda a Europa. A Itália teve seu primeiro filme rodado em 1896 e, desde aquela época, considerou a sétima arte como um grande espetáculo, com foco na história do país e personagens como Júlio César, Spartacus e a rainha Margherita di Savoia.
Contudo, a popularidade do cinema italiano só aconteceu, para valer, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Antes disso, as produções sofreram influência das obras literárias e do “cinema di propaganda”, que reforçava o nacionalismo pregado pelo fascismo.
Os traumas do pós-guerra, graças a cineastas como Luchino Visconti, Roberto Rosselini e Vittorio De Sica, puderam ser explorados pelo neorrealismo italiano, um movimento que reagiu de maneira crítica aos problemas sociais e trouxe uma renovação estética na temática, na linguagem e na relação que o público tinha com os filmes.
Depois do movimento neorrealista, outros gêneros passaram a ganhar destaque. Nas décadas de 60 e 70, o cinema italiano se consagrou com as produções de Michelangelo Antonioni e Federico Fellini, passando a ser a principal frente das grandes transformações, com narrativas sobre a pós-modernidade e histórias em que homens comuns se transformavam em heróis.
Na década de 80, contudo, a qualidade das produções caiu muito e os filmes artísticos, pouquíssimo ambiciosos, passaram a ser os favoritos do país. Mas, a partir da década de 90, o cinema italiano voltou a nos oferecer grandes roteiros e produções que investem, principalmente, na reflexão.
Confira, então, a nossa lista de filmes italianos indispensáveis que fizeram parte dessa história:
L’Inferno (1911) | Adolfo Padovan, Francesco Bertolini e Giuseppe de Liguoro
Primeiro longa-metragem italiano, “L’Inferno” – O inferno – é inspirado em “A Divina Comédia”, poema épico escrito por volta de 1310 pelo italiano Dante Alighieri. O filme é mudo, em preto e branco, e representa a viagem espiritual de Dante pelos círculos pós-morte: Inferno, Purgatório e Paraíso.
Roma, Cidade Aberta (1945) | Roberto Rossellini
“Roma, città aperta” é um drama de guerra, precursor do neorrealismo italiano. A história se passa em Roma, no ano de 1944, quando um dos líderes da Resistência, Giorgio Manfredi (Marcello Pagliero), é procurado pelos nazistas e para não ser pego, pede ajuda e deixa marcas na vida de amigos e compatriotas que possuem experiências, crenças e motivos muito diferentes para ajudá-lo.
Ladrões de Bicicletas (1948) | Vittorio De Sica
“Ladri di Biciclette” foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro e, em 1950, recebeu o prêmio honorário por Melhor Filme Estrangeiro Lançado nos EUA em 1949. O filme conta a história de um trabalhador que luta para sustentar a família e tem sua bicicleta roubada – como ela era o seu único meio de transporte para o trabalho e, também, um penhor, o homem sai com seu filho para procurá-la pela cidade.
Noites de Cabíria (1957) | Federico Fellini
Em “Le notti di Cabiria”, uma jovem prostituta procura, confiante, o verdadeiro amor. Mesmo com muitas decepções amorosas, a romântica Cabíria – que dá título ao filme – se mostra incansável e descobre o par perfeito em um local bastante peculiar.
Rocco e seus irmãos (1960) | Luchino Visconti
A família de Rocco enfrenta diversos problemas ao se mudar para Milão, mas a mãe viúva e seus cinco filhos fazem o possível para levar a vida da melhor maneira possível. O estopim de “Rocco e i suoi fratelli” acontece quando uma prostituta se envolve com mais de um dos membros da família e a disputa afeta a convivência entre esses irmãos.
A Doce Vida (1960) | Federico Fellini
“La Dolce Vita” é, na verdade, um filme franco-italiano. Estrelado por Marcello Mastroianni, conta a história de um jornalista que escreve para tabloides sensacionalistas, mas almeja ser um escritor sério. Na Roma do início dos anos 60, ele convive com celebridades, herdeiros e fotógrafos que, assim como ele, enfrentam o vazio existencial frequentando festas e descobrindo novas experiências. É nesse cenário extravagante que o personagem começa a se conhecer e descobre um novo sentido para sua vida em meio a todas as situações em que se envolve.
8½ (1963) | Federico Fellini
Com muitas cenas inspiradas (e retiradas) da vida do próprio diretor, é um dos grandes sucessos do cinema italiano. No filme, o cineasta Guido Anselmi (interpretado por Mastroianni e, claramente, um alter ego de Fellini) está sofrendo a pressão da mulher, da amante, de seu produtor e com a imprensa, investidores e críticos batendo à porta, querendo saber como está a produção de seu novo filme. A questão é que Guido tem, apenas, um roteiro que não lhe agrada, uma grande crise existencial e uma rota de fuga em que acaba misturando a ficção com sua própria realidade. (Parece que a vida imitou a arte e vice-versa. Certo?).
O Leopardo (1963) | Luchino Visconti
O filme “Il Gattopardo” é baseado no romance homônimo e narra a história da decadência da nobreza da Sicília no período de 1860, conhecido como “Risorgimento”. Entre contradições políticas e caos originado pela ascensão da burguesia, o príncipe Don Fabrizio Salina luta para manter seus valores e, também, continuar sendo valorizado nesse novo cenário.
Deserto Rosso – O Dilema de uma Vida (1964) | Michelangelo Antonioni
Em uma área industrial sombria e triste de Ravenna, uma jovem mulher tenta lidar com a vida e com seus problemas psiquiátricos. Sem saber direito qual é seu papel na vida do marido e da família, ela passa a ter um caso com Zeller, que a usa para satisfazer seus próprios desejos.
Antes da Revolução (1964) | Bernardo Bertolucci
“Prima della rivoluzione” é um drama e o primeiro filme de visibilidade do diretor. Em Parma, onde se passa a história, conhecemos Fabrizio (Francesco Barilli), um jovem apaixonado e idealista, que passa a questionar suas relações, ideias, o presente e futuro quando seu amigo Agostino, supostamente, suicida-se.
Julieta dos Espíritos (1965) | Federico Fellini
“Giulietta degli spiriti”, a Julieta, é uma burguesa com uma vida quase perfeita, cercada por empregados e todo o luxo que deseja. Ao desconfiar de uma traição do seu marido, a quem tanto se dedica, ela se volta a um mundo mental, onde seu espírito se mistura com seus sonhos e deixa de lado o conformismo burguês, em uma jornada de autoconhecimento.
Três Homens em Conflito (1966) | Sergio Leone
“Il buono, il brutto, il cattivo” ou “O bom, o mal e o feio” é o último filme de uma trilogia que Clint Eastwood fez com o italiano Sergio Leone – os outros dois são “Por um Punhado de Dólares” (1964) e “Por uns Dólares a Mais” (1965). Em meio à Guerra Civil americana, Clint é o Homem sem Nome, um pistoleiro que se alia a outros dois bandidos para tentar se apoderar de uma grande quantidade de ouro roubado – mas, como nenhum desses foras-da-lei está acostumado com o trabalho em equipe, as relações começam a enfraquecer. A canção original, composta por Ennio Morricone, se tornou icônica.
Teorema (1968) | Pier Paolo Pasolini
Em Milão, uma rica família tem sua vida completamente transformada por um visitante libertino, que seduz e muda a maneira como cada um se comporta. Os personagens representam a sociedade italiana e, através deles, o diretor critica a futilidade, o comodismo e a alienação.
O Conformista (1970) | Bernardo Bertolucci
“Il conformista” é um filme italiano, francês e alemão ocidental escrito e dirigido por Bertolucci, com roteiro adaptado do romance de Alberto Moravia. A história fala de Marcello, o mais novo funcionário de Mussollini que, em sua lua de mel em Paris, deve cumprir uma missão dada por seu chefe: eliminar um professor que fugiu dos fascistas.
Amarcord (1973) | Federico Fellini
Essa comédia dramática franco-italiana narra aspectos da vida familiar, religiosa, política e educacional sob o domínio fascista. Acompanhamos um ano na vida de uma pequena cidade costeira pelo olhar de Titta (Bruno Zanin), um garoto facilmente impressionável e que, no decorrer da história, consegue brincar com a sua (e também a nossa) imaginação.
O Perfume da Dama de Negro (1974) | Francesco Barilli
Em “Il Profumo Della Signora in Nero”, uma cientista obcecada pelo trabalho começa a sofrer com traumas de sua infância, confusões mentais e eventos sobrenaturais. O filme traz personagens curiosos, mortes brutais e um toque sombrio à vida da protagonista.
Suspiria (1977) | Dario Argento
O filme conta a história de Suzy, uma jovem americana que vai para uma academia de ballet para realizar seu sonho de estudar em uma renomada escola de artes. Quando ela chega ao local, eventos assustadores começam a acontecer, deixando a garota envolvida na atmosfera sombria da cidade e revelando, aos poucos, os segredos dessa suposta academia. Suspiria é considerado um dos melhores filmes de terror já lançados e foi a primeira produção italiana a utilizar uma Steadicam.
Cinema Paradiso (1988) | Giuseppe Tornatore
Figurinha obrigatória para fãs do cinema, “Nuovo Cinema Paradiso” nos apresenta Toto, um jovem que fica hipnotizado pelo cinema local e faz amizade com o projetista Alfredo. O formato é o grande destaque do filme: conhecemos a história como se fossem lembranças revividas por Toto, atualmente um cineasta de sucesso, ao receber a notícia da morte de seu amigo. A produção ganhou o Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, o Prêmio César de Melhor Poster e o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes.
Estamos todos bem (1990) | Giuseppe Tornatore
O aposentado Matteo Scuro decide visitar cada um de seus filhos, depois que todos cancelam a visita anual que lhe fazem. “Stanno tutti bene” traz revelações sobre a vida de Matteo e seus familiares, em uma jornada pela Itália.
A Vida é Bela (1997) | Roberto Benigni
“La Vita è Bella” concorreu com “Central do Brasil” no Oscar de 1999 e levou a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, além dos prêmios de Melhor Ator e Melhor Trilha Sonora. Na história, o judeu Guido (interpretado por Benigni) é levado para um campo de concentração nazista. Longe de sua esposa, o homem usa a imaginação para proteger o filho do terror e da violência que precisam enfrentar, fazendo com que aquilo pareça uma brincadeira aos olhos do menino.
A Lenda do Pianista do Mar (1998) | Giuseppe Tornatore
Com trilha de Ennio Morricone, o filme “La leggenda del pianista sull’oceano” é um drama que conta a história de um garoto que nasce em alto-mar, a bordo de um transatlântico, e ganha o nome de 1900. Ao crescer, seu talento natural para o piano chama a atenção de Jelly Roll Morton, que desafia o rapaz para um duelo, sem saber da fixação e inspiração que o “oponente” encontra nos sons do oceano.
O Tigre e a Neve (2005) | Roberto Benigni
Nessa comédia dramática, o professor Attilo De Giovanni (Benigni) vive em seu próprio mundo, distante da realidade, sonhando em conquistar a mulher que ama. Depois de lançar um livro chamado “O Tigre e a Neve”, ele vai ao Iraque em busca de sua amada – ferida em um bombardeio – e se envolve em inúmeras dificuldades para encontrar medicamentos e ajuda em uma cidade quase em ruínas.
Vincere (2009) | Marco Bellocchio
“Vincere” traz um jovem Mussolini, militante socialista radical, mas a história fala, verdadeiramente, de Ida Dalser, que se apaixona, casa e tem um filho com o futuro líder fascista. Durante a I Guerra Mundial, Mussolini desaparece e Ida só o reencontra mais tarde em um hospital, casado com outra mulher e, de acordo com a sequência política dos fatos, ocultando as informações sobre o primeiro casamento através de seu partido.
Gomorra (2008) | Matteo Garrone
Esse drama napolitano expõe o submundo criminoso da Itália, com cinco histórias paralelas de pessoas que tentam viver suas vidas, mas são regidos pela Camorra, tradicional máfia da região da Campanha, que instiga a violência incessantemente.
A Grande Beleza (2013) | Paolo Sorrentino
Durante o verão italiano, o escritor Jap Gambardella começa a refletir sobre a vida. Desde o sucesso de seu último livro, o sexagenário não conseguiu publicar mais nada e, entre festas, luxos e privilégios que sua fama trouxe, tenta se lembrar de um amor da sua juventude. Apegado a essas lembranças, Jap tenta mudar sua vida e, talvez, encontrar inspiração para escrever novamente.
Menções Honrosas:
Marco Antônio e Cleópatra (1913) | Enrico Guazzoni
Esse filme mudo italiano é uma adaptação da peça homônima de Shakespeare, com inspiração nos poemas de Pietro Cossa e em Vidas Paralelas, de Plutarco. Rodado em Roma, traz grandes cenas de multidão, muito drama emocional e locações impressionantes. É difícil encontrá-lo em boa qualidade na internet, mas vale a pena para conhecer um pouco mais da história do cinema.
O Carteiro e o Poeta (1994) | Michael Radford
Certo, “Il Postino” é dirigido por um britânico, mas entrou na nossa lista por ser um grande filme italiano. Nele, o escritor Pablo Neruda vai viver exilado em uma ilha na Itália. Lá, um desempregado quase analfabeto é contratado como carteiro e fica encarregado pela correspondência de Neruda. O escritor, então, decide ensinar o homem a fazer poemas e, a partir disso, começa a se formar uma sólida amizade.
Juventude (2015) | Paolo Sorrentino
“La Giovinezza”, filme italiano com diálogos em inglês, nos apresenta Fred e Mick, dois amigos com quase 80 anos de idade que estão em férias nos Alpes. Fred (Michael Caine) é um compositor e maestro aposentado e Mick (Harvey Keitel), um diretor de cinema. Eles começam a recordar paixões da infância e juventude, enquanto Mick tenta encontrar o final do roteiro de seu grande último filme. Fred, por outro lado, não pretende voltar à carreira musical – pelo menos, é o que ele diz. O filme é atual, mas traz tanta profundidade e reflexão quanto “A Grande Beleza” e, por conta disso, foi adicionado a essa lista.
120 Dias de Sodoma (1975) | Pier Paolo Pasolini
Um dos filmes mais polêmicos do cinema italiano. “Salò o le 120 giornate di Sodoma” conta a história de um grupo de jovens selecionados por um presidente de banco, um bispo, um duque e um juiz (todos membros do Partido Fascista de Mussolini) para, durante 120 dias, realizarem torturas e experimentos sádicos – os piores que você pode imaginar. É um filme que exige estômago (bem) forte.
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12 Comentários
“Morte em Veneza”… “Parente é Serpente”…
Lista maravilhosa!
Rosso como il cielo!! 😀
Lindo esse filme!
também gostei! baseado em historia real
faltou la mortadella, afe
Faltou DIO, COME TI AMO, com Gigliola Cinquetti. É simplesmente o melhor filme que já vi na vida!
Penso que A Arvore dos Tamancos, de Ermano Olmi, não pode faltar na antologia de filmes italianos.
Manolo, filme italiano, aqui no Brasil rodou em 1993.
Irmão Sol, Irmã Lua.
Senti imensamente a falta de A Aventura (1960) de Michelangelo Antonioni
Os Girassois da Rússia