Filmes falados, a chegada do som no cinema
“Espere um minuto, espere um minuto, você ainda não ouviu nada!”
Hoje em dia, a maioria das pessoas não consegue nem imaginar como seria assistir um filme sem som e, principalmente, sem falas, mas houve um tempo em que a possibilidade dessa “novidade” trouxe muito medo e desconforto aos realizadores de cinema.
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O mercado cinematográfico estava indo muito bem com os filmes mudos, e a chegada do som mudaria drasticamente a forma de se fazer cinema. Contar histórias, talvez, fosse até mais fácil com a possibilidade das falas, mas alguns atores da época não estavam preparados para essa mudança. Roteiros precisariam ser escritos de formas diferentes e atores precisariam interpretar como nunca antes.
Alguns historiadores marcam o dia 23 de outubro de 1927 como um dos momentos mais marcantes para o cinema, foi quando aconteceu o lançamento de O Cantor de Jazz (The Jazz Singer), com direção de Alan Crosland em Nova York, filme que trouxe o som de uma forma icônica às grandes telas.
Embora já tivessem sido realizados diversos experimentos que misturassem imagens com sons, foi O Cantor de Jazz que fez isso com afinco graças a utilização do sistema Vitaphone, o qual permitia uma sincronia do som veiculado por um fonógrafo com a imagem. Esse sistema prevaleceu e dominou o mercado no início da era dos filmes falados, mas foi a gravação do som em película (gravado fisicamente no filme em que estava a imagem) que prevaleceu.
Por mais que tenha sido um marco positivo para o avanço do cinema, esse filme é amplamente tema de discussões sobre o racismo. O ator Al Jolson utilizou a criticada “blackface” (pintura de rosto para representação de um afro-descendente) pois não utilizavam atores negros na maioria dos filmes, afinal, o racismo era algo muito forte naquela época.
Mesmo que O Cantor de Jazz não seja exatamente um filme falado, foi ele que marcou essa transição na história do cinema. No meio de uma apresentação de Jazz, Jakie Rabinowitz (Al Jolson), chama a próxima canção com a inesquecível frase “Espere um minuto, espere um minuto, você ainda não ouviu nada!”, um momento marcante que aproximou espectador e obra.
Antes do Vitaphone, o consagrado D.W. Griffith havia realizado um experimento usando um processo anacrônico de som em disco intitulado de Photokinema, ele trouxe som a um de seus filme já lançados anteriormente mudo, Rua dos Sonhos (Dream Street, 1921), mas não obteve tanto sucesso pois a maioria dos cinemas não tinha os equipamentos necessários para rodar o filme.
Em 1928, Bryan Foy lança o primeiro filme totalmente falado e sonorizado, Luzes de Nova York (Lights of New York). Originalmente, a Warner Bros. deu permissão ao diretor de filmar apenas 2 rolos, o que resultaria em um curta-metragem, mas aproveitando a ausência dos chefes de estúdio, Bryan expandiu o filme tornando seu longa de estreia.
“O Cantor de Jazz trouxe o som, Luzes de Nova York trouxe diálogos. Depois disso, tudo mudou.” disse o próprio produtor da Warner Bros. Darryl F. Zanuck que mais tarde fundou os estúdios 20th Century Fox.
No ano seguinte, o grande mestre do suspense – Alfred Hitchcock – lança o clássico Chantagem e Confissão (Blackmail, 1929), considerado um dos primeiros filmes falados britânicos e também uma das grandes obras primas inglesas.
Sob os Tetos de Paris (Sous les Toits de Paris, 1930), dirigido por René Clair, estreia na frança e alcança sucesso internacional; o suspense noir expressionista M, O Vampiro de Dusseldorf (M, 1931) de Fritz Lang estreia na Alemanha e traz um uso de narração inovador para a época; Carl Theodor Dreyer lança O Vampiro (Vampyr, 1932), filmado 3 vezes, uma em alemão, outra em francês e outra em inglês.
E assim, aos poucos, o som foi chegando na sétima arte. Você lembra de mais alguma obra que marcou essa transição? Comente aqui embaixo.
Referência Bibliográfica: Livro Tudo Sobre Cinema, de Philip Kemp, lançado no Brasil pela editora Sextante.
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